A influência do tratamento de efluente na Indústria Têxtil

By Vivian Katayama

A indústria da moda é a segunda maior consumidora de água, representando 15% de toda a água industrial do mundo. Todos os anos, a indústria têxtil consome 93 trilhões de litros de água, cerca de 4% da captação mundial de água doce anual. Para se cultivar 1 kg de algodão são necessários de 7 a 29 mil litros de água, sem contar com a utilização dela no processo de produção das peças, que é indispensável e está presente em várias etapas. 

Com base nisto, além do alto consumo de água, outro fator que impacta o meio ambiente é a poluição por conta do descarte de efluentes gerados sem um tratamento adequado. Por exemplo em 2010, a indústria têxtil ficou em terceiro lugar geral na descarga de águas residuais, sendo um montante de 2,5 bilhões de toneladas por ano. Parte da poluição da água industrial está nos processos de tingimento e tratamento têxtil. 

No Brasil, a indústria têxtil tem parcela significativa na economia e apresenta um grande crescimento ao longo dos tempos. Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (Abit) apontam que o setor tem uma contribuição de 16,7% dos empregos no país. Isso está atrelado ao fato de que o país tem um grande sucesso na qualidade do processo de tingimento, o que contribui muito para o mercado externo e interno, porém, é um dos processos mais poluentes. 

São utilizados muitos produtos químicos no processo de tingimento e o principal deles são os corantes sintéticos. Apenas no Brasil, cerca de 10.000 tipos de corantes e pigmentos são utilizados nas indústrias com um consumo de 26.500 toneladas por ano. Dentre estes tantos, o que vem mais sendo consumido ao longo dos anos são os corantes dispersos, utilizados para tingir fibras sintéticas. Desta forma sua utilização vem trazendo preocupações pois tem propriedades mutagênicas (capacidade de mudança no material genético quando expostos às células) e são insolúveis em água, dificultando o processo de tratamento do efluente.

Os efluentes têxteis são bastante heterogêneos e possuem muitos componentes tóxicos. Além do mais, apresentam forte coloração, temperaturas elevadas, pH altamente variável, grande quantidade de sólidos suspensos, óleos, graxas, lubrificantes, metais pesados, concentrações de Demanda Química de Oxigênio (DQO), compostos orgânicos clorados e surfactantes que podem causar eutrofização, além de perturbar a vida aquática.

Quando são lançados em corpos hídricos sem nenhum tipo de tratamento, causam sérios problemas ambientais contaminando a água potável, altera o ciclo biológico dos seres vivos e até mesmo o processo de fotossíntese, pois a coloração do efluente interfere no processo de captação da luz solar.

A preocupação ecológica mais emergente é a capacidade desses efluentes atingirem reservatórios e estações de água, como por exemplo os lençóis freáticos.

Leis foram criados por conta dos impactos e inúmeras alterações quanto à políticas e regulamentos foram feitas , em nível nacional e internacional, a fim de tentar evitar esses efeitos. Cobranças sociais, pedindo o cumprimento dessas leis por parte das empresas, vem cada vez mais ganhando força.

A grande maioria dessas leis são para o uso e o descarte do efluente,

impondo condições de tratamento e parâmetros que o efluente tratado deve atingir antes de ser descartado. No Brasil , os parâmetros exigem tratamentos químicos, físicos e biológicos, sendo esses valores diferentes para cada indústria e região .Tendo isso em vista algumas resoluções são à nível nacional, mas a maioria é determinada em cada estado.

Normalmente, os padrões quantitativos do setor têxtil apresentam os seguintes parâmetros: vazão de corrente efluente, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), sólidos em suspensão (SS), pH, e temperatura. Em alguns casos se adicionam a cor e o cromo.

Muitas vezes, um tratamento não é o suficiente para atingir esses parâmetros, sendo necessário um segundo e até mesmo um terceiro tratamento, tendo um custo elevado para as indústrias.

Por conta disso, grandes empresas vêm investindo recursos para encontrar alternativas mais limpas para seus meios de produção, buscando alcançar o equilíbrio entre gerar o menor impacto ambiental possível sem trazer gastos exorbitantes para a empresa.

Os resultados desses investimentos e a busca por novas técnicas de tratamento e de produção vem atraindo cada vez mais a atenção de químicos, ambientalistas tecnólogos e empresários. As pesquisas mais atuais giram em torno de novos modelos de produção que utilizem materiais mais baratos, eficientes e com fácil remoção, sem gerar mais resíduos pós-tratamento.

Uma das alternativas que tem destaque hoje em dia e que vem cada vez mais ganhando espaço, é a reutilização do efluente tratado. Devido à crise hídrica as indústrias tendem a investir cada vez mais tempo e dinheiro no reuso, recuperação e reciclagem de efluentes têxteis, pois, esta alternativa consegue diminuir a quantidade de efluente descartado e o grande consumo de água utilizado na produção. 

Para a reutilização do efluente técnicas mais modernas, como Processos de Separação com Membranas (PSM), vem surgindo como uma ideia promissora. Os PSM são processos físicos onde o efluente passa por uma barreira (membrana), removendo poluentes sólidos, microorganismos por microfiltração e sais e matérias orgânicas por osmose inversa e, principalmente, removendo os corantes. Os resultados desse tratamento fazem com que o efluente se torne propício para o reuso em diversos fins, além da recuperação de alguns compostos (como o látex e a goma) que podem ser reutilizados na produção.

Porém, este método mais moderno precisa de um alto investimento e conhecimento da utilização e manejo das máquinas, pois a membrana é extremamente sensível e danifica com facilidade. Além do mais, para cada efluente e a finalidade do resultado desejado tem-se um tipo de membrana, fazendo com que a compra do determinado equipamento seja limitada.

O método mais tradicional usado hoje em dia é através do uso de floculantes, coagulantes e carvão ativado. É um método mais simples, com materiais mais baratos e eficientes. O floaculante é adicionado e coagulantes que irão fazer com que as impurezas do efluente se unam formando coágulos e assim irão se depositar no fundo do tanque, o que chamamos de lodo. O lodo é retirado, secado e encaminhado para um aterro industrial.

Antes do processo de filtração, é adicionado produtos químicos reguladores de pH e compostos que irão tratar os agentes biológicos que podem estra presentes.

Em seguida esse efluente passa por um filtro contendo pedras, areia e carvão ativado, respectivamente. As pedras e a areia servirão como uma barreira física para reter as impurezas sólidas restantes da etapa anterior, enquanto o carvão ativado irá reter impurezas ainda menores.

O carvão ativado é um composto com propriedades adsorventes. Ele irá reter grande parte dos corantes e minimizar o cheiro do efluente. Isto se deve ao fato do carvão ativado ser poroso, o fluido passa por entre esses poros e essas impurezas ficam retidas.

Por fim, são feitos os testes das propriedades químicas, físicas e biológicas para ver se o efluente tratado está com os parâmetros desejados para o descarte. 

Your Name*
E-mail address*
Website URL
Comment*

RSS
LinkedIn
Share
Verified by MonsterInsights